Em poucas palavras...
É muito antiga a preocupação do homem em conhecer o meio no qual se desenrola sua vida, algumas vezes por curiosidade, outras com fins econômicos ou políticos. A abordagem sistemática do conhecimento da Terra é precisamente o objetivo da geografia, disciplina cujo nascimento pode ser situado na própria origem do homem, embora só tenha alcançado a categoria de ciência com o florescimento da civilização grega.
Geografia é o estudo da superfície da Terra. Sua denominação procede dos vocábulos gregos geo ("Terra") e graphein ("escrever"). A superfície terrestre, que compreende a atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e a biosfera, é o habitat, ou meio ambiente, em que podem viver os seres humanos.
A área habitável da superfície terrestre apresenta várias características, das quais uma das mais importantes é a complexa interação dos elementos físicos, biológicos e humanos, como relevo, clima, água, solo, vegetação, agricultura e urbanização. Outra característica é a grande variabilidade do ambiente de um lugar para outro, dos trópicos às frias regiões polares, de áridos desertos a úmidas florestas equatoriais, de vastas planícies a montanhas escarpadas, de superfícies geladas e desabitadas a metrópoles densamente povoadas. Outra característica ainda é a regularidade com que se registram determinados fenômenos, como os climáticos, o que permite generalizações sobre sua distribuição espacial. Os exemplos mais óbvios são as medidas de temperatura e precipitação, principais elementos climáticos para a agropecuária e outras atividades humanas. A geografia se preocupa particularmente com a localização espacial (especialmente a relação entre a sociedade e a terra, da mesma forma que a ecologia e afinidades ), com a regionalização e com a distribuição das áreas. Pesquisa a respeito dos lugares onde as pessoas vivem, sobre a superfície da Terra e os fatores (ambientais, culturais, econômicos recursos naturais) que influem nessa distribuição. Tenta responder a questão e a possibilidade de reconhecer uma região sobre a qual vive uma população, meio de vida, cultura e relações que ocorrem entre os diferentes lugares.
1- História
2- Principais geógrafos
3- Disciplinas da Geografia Moderna
4- Cartografia e Escalas
1- História
Os primeiros registros de conhecimentos geográficos se encontram em relatos de viajantes, como o grego Heródoto, no século V a.C. A percepção dos gregos sobre a Terra era bastante avançada, e filósofos como Pitágoras e Aristóteles acreditavam que ela tinha a forma esférica. No século III a.C., Erastóstenes de Cirene, na Geographica, primeira obra a usar a palavra geografia no título, calculou a circunferência da Terra com assombrosa aproximação.
Posteriormente, o geógrafo e historiador grego Strabo compilou todo o conhecimento clássico sobre geografia numa obra de 17 volumes sobre a época de Cristo, que se tornou a única referência sobre obras gregas e romanas desaparecidas. Outra importante contribuição, apesar dos erros que seus estudos apresentavam, foi a do astrônomo e geógrafo Ptolomeu, do século II da era cristã.
Com a queda do Império Romano no Ocidente, o conhecimento geográfico greco-romano perdeu-se na Europa, mas, durante os séculos XI e XII foi preservado, revisto e ampliado por geógrafos árabes. As adições e correções que estes fizeram, no entanto, foram ignoradas pelos pensadores europeus que, na época das cruzadas, retomaram as primeiras teorias. Assim, os erros de Ptolomeu se perpetuaram no Ocidente até que as viagens realizadas dos séculos XV e XVI começaram a reabastecer a Europa de informações mais detalhadas e precisas sobre o resto do mundo. Em 1570, o cartógrafo flamengo Abraham Ortelius organizou vários mapas sob a forma de livro, no primeiro Atlas de que se tem notícia.
2-Principais Geógrafos
Bernhardus Varenius
Uma importante figura da retomada dos estudos de geografia , cuja Geographia generalis (1650; Geografia geral) foi várias vezes revisada e permaneceu como principal obra de referência durante um século ou mais. Também era de Flandres o cartógrafo mais importante do século XVI, Gerardus Mercator (Gerard de Cremer), que criou um novo sistema de projeções, aprimorando os que usavam longitudes e latitudes.
James Cook
James Cook fixou novos padrões de precisão e técnica em navegação. Realizou viagens com fins científicos e, na segunda delas, a mais famosa, de 1772 a 1775, circunavegou o globo. Na França surgiu a primeira pesquisa topográfica detalhada de um grande país, levada a cabo entre os séculos XVII e XVIII por quatro gerações de astrônomos e pesquisadores da família Cassini. Em seu trabalho se baseou o Atlas nacional da França, publicado em 1791.
Alexander von Humboldt
Como muitos que o antecederam, se propôs conhecer outras partes do mundo, mas acabou se distinguindo pela cuidadosa preparação que antecedia suas viagens, pelo alcance e precisão de suas observações. São de especial interesse seus estudos sobre os Andes (feitos durante uma viagem às Américas Central e do Sul, entre 1799 e 1804), em que pela primeira vez se fez uma descrição sistemática e inter-relacionada da altitude, temperatura, vegetação e agricultura em montanhas situadas em regiões de baixa latitude. Surgimento da geografia moderna. Humboldt lançou as bases da geografia moderna, com ênfase na observação direta e nas medições acuradas como base para leis gerais.
Immanuel Kant
Definiu satisfatoriamente o lugar da geografia entre as diferentes disciplinas: afirmou que a geografia lida com os fenômenos associados no espaço da mesma forma que a história lida com os fatos que ocorrem durante uma mesma época. Foi Kant que primeiro utilizou o termo "Geografia Física" e que relacionou a Geografia ao espaço e a Historia ao tempo. Tanto Kant quanto Humboldt lecionaram geografia física e foram contemporâneos de Carl Ritter, que ocupou a primeira cadeira de geografia criada numa universidade moderna.
Ferdinand Paul Wilhelm, barão de Richthofen
Escreveu um monumental estudo de cinco volumes sobre a geografia chinesa e influenciou o desenvolvimento da metodologia geográfica na Alemanha e em outros países.
Friedrich Ratzel
Escreveu trabalhos pioneiros em geografia humana e política. Criador da antropogeografia, o geógrafo e etnógrafo alemão é autor do ensaio tido como ponto de partida da geopolítica, no qual introduziu o conceito de espaço vital. Posteriormente, essa noção foi distorcida pelo nazismo para justificar suas pretensões expansionistas. Apesar de admirar as concepções evolucionistas de Darwin e Haeckel, Ratzel criticou-as pelo mecanicismo. Expôs, em suas obras Anthropogeographie (1882-1891; Antropogeografia) e Politische Geographie (1897; Geografia política), os princípios de seu pensamento. Na primeira, desenvolveu a tese de uma relação causal entre as características do meio-ambiente natural e as realizações humanas. Na segunda, estabeleceu uma analogia biológica entre os mecanismos de contração e expansão dos países, ou seja, a tendência dos povos a limitarem ou ampliarem fronteiras segundo as necessidades de espaço vital (Lebensraum). Esse conceito, na interpretação do cientista político sueco Rudolf Kiellén, foi usado como justificativa para o expansionismo nazista do III Reich.
Paul Vidal de La Blache
Foi um dos principais responsáveis pelo surgimento da geografia moderna na França. Deve-se a ele a definição do campo da geografia regional, com ênfase no estudo de áreas pequenas e relativamente homogêneas. Foi o primeiro professor de geografia da Sorbonne e planejou uma obra monumental, que cobria a geografia regional em todo o mundo, mas não viveu o bastante para concluí-la. Géographie universelle (1927-1948) foi completada por seu aluno Lucien Gallois e é uma das mais bem-sucedidas publicações sobre o tema.
3- Disciplinas da Geografia Moderna
Quanto a seu objeto de estudo, a geografia mantém muitas afinidades com outras ciências, como a meteorologia, a geologia, a biologia, a economia, a sociologia e a história. Apresenta, além disso, pontos em comum com a psicologia, a filosofia e a teologia, já que tanto as idéias como os fatos humanos se manifestam espacialmente. A ecologia é a ciência mais afim com a geografia, e chegou-se até a definir essa última como ecologia humana. Não obstante, uma grande diferença as separa, já que a primeira se encarrega do estudo do ecossistema, entendido como unidade funcional dos seres vivos e do meio a sua volta, enquanto a segunda estuda e interpreta a distribuição espacial dos ecossistemas.
A semelhança com outras ciências levou muitos a considerarem a geografia como uma soma de elementos que individualmente pertenceriam a outras ciências. Contudo, o caráter de síntese e a busca da interação entre os fenômenos que conformam a realidade terrestre outorgam à geografia características próprias. A geografia se divide em campos sistemáticos e especializações regionais, que podem ser reunidas em três grupos principais: geografia física, geografia humana e geografia regional.
Geografia física. As principais atividades do geógrafo físico -- observação, medição e descrição da superfície da Terra -- são os aspectos da geografia geral mais perceptíveis ao não especialista. A crescente complexidade das questões geográficas, porém, exigiu uma progressiva especialização, o que deu margem à criação de novas disciplinas, como ocorreu com a geomorfologia, a climatologia, a biogeografia e a geografia dos solos, ramos da geografia física. Com o aumento da capacidade humana de alterar as paisagens e a ecologia mundial, dois novos ramos surgiram: o manejo de recursos e estudos ambientais.
Os temas do manejo de recursos e dos estudos ambientais são de especial interesse para os geógrafos, pois envolvem tanto sistemas físicos quanto biológicos, por um lado, e sistemas humanos, por outro, e todos eles têm relações específicas com o espaço que ocupam. O manejo de recursos tende a direcionar a utilização dos recursos naturais em benefício da humanidade, geralmente com exploração sustentada ou planejamento de longo prazo, como, por exemplo, no uso de recursos aquáticos de um curso d'água para múltiplas finalidades (energia, irrigação e lazer).
Os estudos ambientais abordam a ameaça imposta a animais e vegetais pela atividade humana; a degradação da atmosfera, da hidrosfera e da litosfera por poluição de muitos tipos; e a combinação desses dois aspectos, como ocorre no caso da chuva ácida resultante da produção de energia a partir de hidrocarbonetos, e no caso da redução da camada de ozônio pelo uso de clorofluorcarbonos. Em todos esses estudos os geógrafos levam em conta tecnologias alternativas, custos, impactos sobre outros sistemas, políticas alternativas e distribuição espacial do benefício ou do problema.
Geografia humana. Um dos problemas centrais da geografia humana é explicar a distribuição e as características dos povos -- área de estudo específica da geografia das populações. Essa distribuição, porém, somente pode ser compreendida quando se presta atenção à forma como os povos satisfazem suas necessidades e garantem sua subsistência; a seus valores culturais e sociais, ferramentas e organização, que são os campos de estudo da geografia cultural e social; à forma como se concentram em cidades e áreas metropolitanas, objeto da geografia urbana; a sua organização política, estudada pela geografia política; a sua saúde e às doenças que os afetam, campo da geografia médica; e à evolução de seus hábitos, matéria da geografia histórica.
Geografia das populações. No estudo da distribuição da população, a geografia das populações leva em conta várias características, como crescimento, quantidade, densidade, idade, sexo, fertilidade, mortalidade, crescimento natural e ocupação; divisão em grupos rurais e urbanos, étnicos, lingüísticos ou religiosos; e migrações. Em geral, os geógrafos não se contentam com médias nacionais, que freqüentemente encobrem fortes contrastes regionais. Em lugar disso, tentam medir e descrever variações regionais e locais. Em algumas regiões, por exemplo, a população aumenta, enquanto em outras declina, e essas variações são quase sempre acompanhadas de fluxos migratórios substanciais.
Alguns estudos geográficos abordam a distribuição espacial, a mobilidade espacial, ou a diversidade espacial em relação ao meio ambiente e aos recursos, freqüentemente representados nos mapas. Outros estudos se preocupam mais com fertilidade, mortalidade, crescimento populacional e previsões apoiadas em modelos demográficos. Outros ainda abordam questões de política populacional.
Geografia econômica. O conhecimento do modo como as pessoas garantem sua sobrevivência em termos econômicos é básico para a compreensão da distribuição da população. É de especial interesse geográfico a localização da atividade econômica em sua evolução histórica dentro de contextos culturais e tecnológicos específicos, baseada em combinações particulares de recursos físicos, biológicos e humanos, condições econômicas e políticas, bem como de ligações e movimentos inter-regionais. Por exemplo, no estudo do surgimento de centros metalúrgicos de um país, é preciso considerar não apenas a localização e disponibilidade das matérias-primas, mas também fatores como a disponibilidade, qualificação e custo da mão-de-obra; distâncias e custos de distribuição para os mercados; custos de implantação; e até mesmo mudanças nas taxas de câmbio dos países competidores, entre outros fatores.
Geografia cultural e social. Cinco temas principais caracterizam a geografia cultural: cultura, área cultural, paisagem cultural, história cultural e ecologia cultural. O primeiro deles refere-se à distribuição no espaço e no tempo de culturas e dos elementos da cultura, como artefatos e ferramentas, técnicas, atitudes, costumes, línguas e crenças religiosas. A área cultural diz respeito aos complexos culturais em sua organização espacial e a paisagem cultural aborda a associação de características humanas, biológicas e físicas sobre a superfície da Terra (especialmente as que são visualmente perceptíveis), alteradas ou não pela ação humana. Esse campo tende a concentrar seus estudos nas sociedades tradicionais, e sua principal preocupação tem sido os aspectos espaciais dos grupos minoritários, como mulheres, idosos e pobres.
Geografia urbana. Bem mais abrangente que a geografia cultural, a geografia urbana é um campo de grande importância em nações com economias mais desenvolvidas e altos níveis de urbanização, como os países da Europa ocidental e da América do Norte, a Austrália e o Japão. Entre outros tópicos, estuda os fatores que influenciam a localização de determinadas cidades, sistemas urbanos, diferenças regionais em urbanização, expansão de áreas metropolitanas, problemas sociais e habitacionais etc.
Geografia política. Os estudos de geografia política em nível internacional se concentram na organização do mundo em estados; nas alianças regionais entre países, de um lado, e sua subdivisão político-administrativa, de outro; na delimitação e demarcação de fronteiras; na escolha de locais para as capitais etc. Em nível nacional, estuda movimentos separatistas e distribuição dos votos conforme interesses regionais, entre outros temas.
Geografia médica. Três tipos diferentes de estudos estão incluídos sob a especialidade da geografia médica. Um deles é o estudo da difusão de doenças infecciosas a partir dos centros de ocorrência, que incluem o mapeamento da distribuição de determinada doença. Em segundo lugar estão os estudos da relação entre desnutrição e problemas médicos. O terceiro campo inclui as pesquisas sobre disponibilidade de serviços médicos e sua distribuição ótima.
Geografia histórica. A geografia de épocas passadas e suas mudanças ao longo do tempo é o tema da geografia histórica. O primeiro aspecto analisado é o estudo horizontal dos padrões apresentados em épocas específicas; o outro é a análise vertical do processo de mudança ao longo do tempo. Esse campo cresceu muito na segunda metade do século XX.
Geografia regional. Em contraste com os campos sistemáticos da geografia, que enfocam categorias particulares de fenômenos, na forma como se distribuem pelo globo, a geografia regional estuda as associações regionais de todos ou alguns desses elementos e, especialmente, sua evolução histórica. Trata-se de uma abordagem relativamente recente -- os trabalhos pioneiros nesse campo datam do fim do século XIX e início do século XX -- à qual muitos geógrafos têm se dedicado, mas que algumas vezes apresenta-se como claramente subordinada a outros campos da geografia sistemática. Uma das questões metodológicas a superar é a forma como o mundo deve ser dividido do ponto de vista da geografia regional. A divisão em continentes foi adotada por algum tempo. Mais recentemente, contudo, as regiões com semelhanças culturais ganharam maior reconhecimento, como por exemplo América Latina, Oriente Médio, Mediterrâneo etc. A divisão em função de fatores climáticos ou de vegetação podem ser muito úteis em alguns casos, uma vez que estão estreitamente ligadas ao tipo de agricultura praticado e demais atividades humanas.
4- Cartografia & Escalas
Mecartor Norte/Sul - 1538
A manutenção da rota de um avião ou navio, a análise e definição de estratégias militares de ataque e defesa, a localização de jazidas e possíveis vias de acesso, ou a simples orientação rodoviária numa viagem de turismo, todas essas atividades exigem mapas específicos com diferentes objetivos e usuários. É este o campo da cartografia.
Dá-se o nome de cartografia à ciência de preparar cartas, mapas e planos para os mais variados fins, com diversos níveis de complexidade e informação, baseados em elementos científicos, técnicos e artísticos de extremo apuro, tendo por base os resultados da observação direta ou da análise de documentos. As ciências mais afins à cartografia são a geografia e a geodésia.
Escala é a relação estabelecida entre a representação do fenômeno no mapa e sua verdadeira dimensão. A escala 1:1.000.000 significa que cada medida linear do espaço real está reduzida, no mapa, à milionésima parte (1km = 1mm). O plano, que representa áreas menores, geralmente trabalha com a escala 1:500 ou 1:50.000. O principal problema da cartografia é a projeção da superfície curva da Terra sobre uma superfície plana, o que necessariamente provoca alterações nos ângulos e linhas definidos pelas coordenadas geográficas.
Divisões da cartografia. Três são as divisões básicas da cartografia: (1) cartografia topográfica, topocartografia ou cartografia original; (2) cartografia geográfica ou geocartografia; (3) cartografia temática ou cartografia aplicada.
Cartografia topográfica.
Vinculada à geodésia, a cartografia topográfica dedica-se à transformação direta das medidas e fotografias, obtidas pelos levantamentos de campo, em desenho manual ou pelos levantamentos fotográficos. É quase exclusivamente praticada em instituições governamentais que se dedicam à execução da carta de um país. Trabalho permanente, de contínuo aperfeiçoamento e pormenorização, passou a ser indispensável à tomada de decisões da administração pública e à defesa do território nacional. Com o emprego de escalas pequenas, produzem-se mapas detalhados, matematicamente corretos e que servem de base para outros menos detalhados.
O uso de imagens estereoscópicas nos levantamentos aerofotogramétricos simplificou o desenho cartográfico, tornando-o de mais rápida execução e menos dependente do esforço individual. A aerofotogrametria constitui um método de medida e representação do terreno por meio da fotografia aérea, que é uma perspectiva cônica do terreno. As deformações ópticas desse tipo de foto são corrigidas no momento da fotografia ou em laboratório. Por si só, no entanto, a aerofotogrametria não reduziu os levantamentos de campo, e ainda necessita de apoio terrestre, plenimétrico e altimétrico.
Quase exclusivamente praticada por empresas privadas, algumas de elevado padrão técnico, a cartografia geográfica opera em íntima conexão com a geografia, produzindo peças cartográficas para uso do público em geral, sobretudo estudantes. A geocartografia trabalha a partir da cartografia topográfica, reduzindo escalas, simplificando conteúdos nas minúcias topográficas e generalizando alguns dos aspectos do desenho.
Mapas murais ou em coleção (Atlas), mapas avulsos, plantas de cidades, globos e cartas em relevo são alguns dos produtos comerciais oriundos da cartografia geográfica. O nome Atlas deve-se ao fato de, em 1595, na folha de ante-rosto da coleção de mapas de Gerardus Mercator (publicada por iniciativa de seu filho Rumold), aparecer como ilustração de abertura o titã Atlas, condenado por Zeus a carregar os céus sobre os ombros.
Cartografia temática.
A confecção de cartogramas é a área da cartografia temática. Cartogramas são mapas esquemáticos, com elevado nível de abstração, em que formas ou localizações reais são estilizadas com fins conceituais e informativos. Os elementos cartográficos, reunidos numa só folha, são representações gráficas de fenômenos espaciais e temporais, pelo que abordam numerosos assuntos quase sempre em mutação contínua, como as migrações, fluxos de veículos, desmatamento, reflorestamento etc.
O mapa esquemático que serve de base para o cartograma é extraído do mapa topográfico ou geográfico, sendo o tema do cartograma exposto mediante diversos recursos gráficos, como pontos e figuras, quando é chamado de pictórico. Nessa modalidade, o ponto como figura geométrica é adimensional, isto é, seu tamanho nada representa e só vale como material de leitura. Além de pontos, usam-se barras e faixas que indicam extensões lineares ou, pela espessura, a importância do fenômeno. Outro tipo é o cartograma de isocurvas, em que as curvas ou linhas representam, pela posição, valores equivalentes em toda a sua extensão.
Outras espécies de cartogramas: os de superfície, bidimensionais, recomendados para indicar as variações de determinados fenômenos por meio do uso de áreas sombreadas ou coloridas; cartogramas de aparência tridimensional, também denominados blocos-diagramas, em que os fatos são expostos em perspectiva, exibindo-se o mapa esquemático.
Amostras de primitivos trabalhos cartográficos encontradas em pedras, papiros, metais e peles representam o meio ambiente e a situação das terras por meio de figuras e símbolos. Usaram-se, ainda, varas de bambu, madeira, tecido de algodão ou cânhamo, fibras de palmeira e conchas.
O Museu Semítico da Universidade de Harvard, em Cambridge, Estados Unidos, possui um mapa de origem ainda mais remota; gravado em pedra argilosa, foi achado na região mesopotâmica de Ga-Sur e parece datar de 2500 a 3000 a.C. Outro trabalho de cartografia muito antigo (c.2000 a.C.), desenhado em rocha, foi localizado numa região do norte da Itália, habitada outrora por um povo denominado camunos (camuni) pelos romanos. O Museu de Turim, na Itália, conserva a planta, desenhada em papiro, de uma mina de ouro da Núbia, na África, que data da época de Ramsés II do Egito (1304-c.1237 a.C.).
Coube aos gregos os primeiros fundamentos da geografia e das normas cartográficas, e ainda hoje os alicerces do sistema cartográfico repousam na contribuição que deixaram: a concepção da esfericidade da Terra e as noções de pólos, equador e trópicos; as primeiras medições da circunferência terrestre; a idealização dos primeiros sistemas de projeções e concepção de longitude e latitude. Na antiguidade grega, Anaximandro de Mileto (século VI a.C.) construiu um quadrante solar e possuía um mapa-múndi gravado em pedra.
O grande nome da antiguidade, todavia, é Ptolomeu, que viveu no século II de nossa era. Astrônomo, geógrafo e cartógrafo, ele lançou as bases da geografia matemática e da cartografia no clássico tratado intitulado Guia da geografia (Geographiké hyphegesis), obra que só em 1405, com a tradução para o latim, chegou ao conhecimento dos eruditos europeus.
A era clássica romana não deixou mapas, embora haja registros literários de mapas elaborados em Roma. Varrão (Marcus Terentius Varro) menciona mapas no poema Chorographia e Agripa determinou a confecção de um mapa do mundo então conhecido. Das obras cartográficas romanas só se conhece a célebre Tábua de Peutinger, cópia, feita em 1265, de um original romano que sofreu sucessivos acréscimos até o século IX. Descoberta em 1494 pelo poeta Conradus Pickel (ou Celtis), que a legou a Konrad Peutinger, essa tábua somente veio a ser publicada em 1598. Encontra-se, desde 1738, na Biblioteca Pública de Viena. Trata-se de uma carta das estradas do Império Romano, com as cidades e as distâncias que as separam, e representa o mundo até a costa índica.
Idade Média. Entre as autoridades e autores medievais persistiram concepções gregas como a de estar a Terra pousada sobre um disco metálico. Ao mesmo tempo, as invasões dos bárbaros provocaram a estagnação da produção cartográfica e esta ficou sob exclusivo domínio de copistas eclesiásticos, que valorizaram o aspecto artístico em detrimento da exatidão. O disco metálico sobre o qual se considerava estar a Terra levou à elaboração de mapas circulares, orientados para leste ou sul, e com os continentes representados de forma esquemática. As separações entre as terras lembravam a letra T, donde serem conhecidos como "mapas T-O", "mapas de roda" ou "mapas circulares".
No primeiro período da Idade Média, destaca-se o mapa T-O de santo Isidoro de Sevilha. Dentre as centenas de mapas T-O incluídos nos 600 mapas-múndi medievais que se conservaram, avultam o mapa retangular de Cosmas Indikopleustes, do século VI, e as numerosas cópias dos mapas de são Beato, das quais a de são Severo, do ano 1030 e de forma oval, é a mais conhecida.
Na mesma época, a cartografia árabe experimentava marcante progresso. No ano de 827, o califa al-Mamum ordenou a tradução da Geografia de Ptolomeu para o árabe. Bagdá, Damasco e Córdoba, os centros culturais de então, reuniram geógrafos e cartógrafos estimulados pelo intenso comércio a se expandir do Mediterrâneo até a China. Foram autores de mapas Ibn Hawkal, Abu Isak Istakhri e Maomé al-Edrisi. Ibn Hula construiu um globo terrestre. O rei Rogério II, da Sicília, foi grande incentivador desse movimento, e a ele al-Idrisi dedicou sua compilação geográfica, que possuía um mapa-múndi dividido em setenta folhas.
As cruzadas e o comércio marítimo, em especial o italiano, impulsionaram a confecção de cartas náuticas, mapas marítimos desenhados sobre pergaminho. Impropriamente chamados de portulanos, tinham como característica principal o desenho da rosa-dos-ventos que ocupava todo o espaço do mar: resultava daí um conjunto de retas entrecruzadas que facilitava a fixação da rota por parte do navegador.
Destacam-se também nessa época as Tábuas Toledanas, de Toledo, Espanha, completadas em 1252 por ordem de Alfonso X (1221-1284), rei de Castela, razão por que também são conhecidas como Tábuas Alfonsinas.
Nesse período de grande efervescência científica e cultural, são fundadas escolas de cartografia em Gênova, Veneza e Ancona, na Itália, bem como em Palma de Maiorca, no arquipélago das Baleares, Espanha, que logo assumiram o papel de principais fornecedores de mapas marítimos. Exemplo significativo da produção desses centros cartográficos é o Atlas catalão, de 1375, organizado por ordem de Carlos V o Sábio, rei da França. Monumento artístico, tem oito folhas e o mapa, de 390cm x 69cm, é de autoria de Jaime de Maiorca (Jafuda Creques). Em conformidade com o sistema corporativo vigente à época, a cartografia, em sua produção e comércio, ficou associada a diversas famílias, que conservavam entre si certos segredos de ordem técnica.
O ciclo das grandes navegações exigiu maior exatidão e ampliação das informações cartográficas. Ainda no século XV, em Sagres, Portugal, o infante D. Henrique - entre outros especialistas - reuniu geógrafos, astrônomos e cartógrafos de diferentes países, e no século seguinte Portugal já contava com grandes cartógrafos como Lopo Homem, André Homem, Diogo Ribeiro, Gaspar Viegas, Bartolomeu Velho e Fernão Vaz Dourado. Em 1508, em Sevilha, na Espanha, a Casa de la Contratación de las Índias instalou um órgão fiscalizador da produção e comércio de mapas para a navegação. O mapa-múndi Orbis typus universalis tabula (1512), do veneziano Jerônimo Marini, é o primeiro em que se registra o nome Brasil.
Já na segunda metade do século XVI apareceram os primeiros mapas impressos em xilografia ou que empregavam gravações em chapas de cobre. O século XVII assistiu ao apogeu da cartografia nos Países Baixos, especialmente nas cidades de Antuérpia e Amsterdã. Esse progresso deve-se a cartógrafos como Abraham Ortelius, Jodocus Hondius e, sobretudo, a Gerardus Mercator, forma latinizada de Gerhard Kremer (mercador). Deve-se a Ortelius o Theatrum orbis terrarum (1570), com 53 folhas cartográficas e setenta mapas gravados em cobre, o primeiro Atlas nos moldes dos atuais. Mercator criou a projeção que leva seu nome, própria para mapas náuticos, segundo a qual os meridianos são os ângulos retos aos paralelos de latitude.
Ainda nos Países Baixos, a família Blaeu reuniu alguns dos maiores nomes da época, como Guilielmus Caesius ou Guilielmus Jansonius Blaeu, Jan Blaeu e Cornelis Blaeu. Ao declínio da cartografia holandesa, acelerado pelo incêndio nas instalações da família Blaeu, seguiu-se a ascensão da cartografia francesa, em que sobressaem Guillaume Delisle e Jean-Baptiste Bourguignon d'Anville.
No século XVIII ganha corpo o critério da exatidão como regra cartográfica e nesse aspecto se destaca o francês César-François Cassini, devido a sua carta da França, na escala 1:86.400, com 184 folhas. Pouco depois, Napoleão Bonaparte mandou preparar o mapa manuscrito de toda Europa, na escala 1:100.000, com 254 folhas.
Viajantes, cientistas e descobridores como James Cook, que fez a carta da Nova Zelândia e a da costa ocidental da Austrália, e Alexander von Humboldt, cuja obra Kosmos teve extrema importância para a geocartografia, foram grandes pioneiros nos levantamentos de campo.
Nessa mesma época, ocorreram dois outros acontecimentos de grande significado para a ciência: a medição do arco do meridiano terrestre, iniciativa da Academia de Ciências de Paris, com o fim de dirimir as questões suscitadas por Cassini e Isaac Newton quanto à forma da Terra. Newton estava certo: a Terra tinha a forma de um elipsóide de revolução, cujo eixo menor coincidia com o eixo de rotação. Convencionou-se adotá-lo, como forma matemática correspondente a um geóide médio, que serve de referência para o cálculo das operações geodésicas. Ao longo do tempo, vários elipsóides de revolução foram calculados, sendo o de Hayford, em 1909, o mais adotado.
Processos de reprodução. Até o final do século XIX, a reprodução de mapas dependia da gravação, em uma só cor, em chapa de cobre ou em chapas de madeira. Usava-se, também, a litografia, com os desenhos executados em pranchas de pedra, mais tarde substituídas pelo zinco e alumínio. Para representar o relevo nas cartas topográficas adotava-se o sistema de hachuras de Lehmann, baseado no meio-tom.
A evolução da cartografia prosseguiu com uma série de invenções e aperfeiçoamentos, como a fotografia (e suas derivações, como a fotometalografia e a aerofotogrametria), a heliogravura, a tricromia e a policromia nos processos de impressão, o sistema offset de impressão, o processo fotomecânico de Wenschow para a impressão de sombras em relevo, e o desenho automático do conteúdo pelo estereoplanígrafo de Zeiss. Simplificou-se o letreiramento pela impressão tipográfica (método conhecido como carimbagem) e pela confecção mecânica (normógrafo), chegando-se à prensa Van der Cook, ao fotonimógrafo e outros recursos cada vez mais sofisticados, como o radar, o sonar, sensores remotos, computadores e satélites artificiais, que tornaram a coleta de dados e a reprodução cada vez mais acurada.
Os mapas eram desenhados em nanquim sobre papel, cujos negativos, por processo fotomecânico (photomechanical transfer), geravam cópias positivas mediante um processador de transferência por difusão, sendo em seguida transportados para as pranchas de impressão, em zinco. Antes de vidro, pesados e frágeis, o suporte dos negativos passou a ser de material plástico diverso, à base de resinas vinílicas, com várias denominações comerciais, como astralon ou vinilite.
Na atualidade, o original também pode derivar de levantamentos aerofotogramétricos, cujos dados, com o auxílio de instrumento óptico de precisão, é passado para a folha plástica transparente. Para esse trabalho, utiliza-se um material plástico chamado scribe (carrinho), dotado de uma camada de verniz opaco. Para cada cor (em impressão, as cores primárias são o magenta, o amarelo e o ciano, mais o preto, que combinadas reproduzem toda a variedade de cores), é preciso um negativo próprio.
Convenções e projeções
Para interpretar os mapas, é preciso conhecer suas convenções, que se baseiam em cores e se dividem em cinco grandes grupos. Assim, temos: (1) azul (hidrografia ou acidentes aquáticos); (2) preto ou vermelho (acidentes artificiais, como rodovias); (3) castanho (hipsografia, altimetria ou formas de relevo); (4) verde (vegetação e plantação); (5) roxo (convenções especiais, como nas cartas aeronáuticas) etc. Além disso, empregam-se também numerosos sinais e símbolos empregados. Visto que os mapas recebem título, inscrições e legenda, o próprio tamanho da letra já é em si uma convenção que possibilita ao leitor determinar a importância relativa do fenômeno observado.
As projeções cartográficas são representações gráficas da passagem do elipsóide para a superfície plana do mapa em que a rede de coordenadas geográficas curvilíneas (meridianos e paralelos) serve de base geométrica para os mapas. Dependendo das escalas, a projeção das coordenadas geográficas apresenta variações quanto à forma e medida da rede. Nos mapas em escala média ou grande, que representam áreas menores, as deformações são pequenas. Inversamente, nos mapas em pequenas escalas, que abrangem grandes áreas, as deformações são bem maiores. Visto que sempre ocorre deformação, o primeiro problema com que se defronta o cartógrafo é a determinação do sistema que melhor corresponda à realidade que se pretende representar.
As projeções podem ser: (1) eqüidistantes, em que as distâncias são verdadeiras em determinadas direções; (2) eqüiangulares ou conformes, exatas na representação de superfícies: permitem medições de ângulos e a determinação de rumos; e (3) eqüiáreas ou equivalentes, por proporcionarem maior exatidão quanto às áreas. As projeções medianas ou afiláticas procuram representar as três dimensões de maneira diferente, a fim de alcançar a maior semelhança possível na configuração dos continentes e dos oceanos.
Projeções geométricas. Quando se leva em consideração a técnica de transformação das coordenadas curvilíneas em planos, têm-se as coordenadas geométricas, em que se imagina a rede de meridianos e paralelos projetada sobre uma superfície que envolve ou tangencia o globo terrestre. Nesse caso, preferem-se as figuras geométricas que se adequem à confecção de mapas: o plano, o cone, o cilindro, o cubo e o poliedro.
Na projeção cônica, os paralelos são circulares e os meridianos radiais, imaginando-se que o cone, que envolve o globo terrestre, o tangencia em um determinado paralelo, ficando seu vértice no prolongamento do eixo da Terra. Desta forma, os meridianos aparecem nos mapas como linhas retas e os paralelos como circunferências concêntricas.
Nas projeções cilíndricas, os paralelos são dispostos horizontalmente e os meridianos se apresentam verticais e igualmente espaçados. A projeção azimutal é aquela em que o cone se abre até se transformar num plano, coincidindo seu vértice com o ponto de tangência. As projeções azimutais variam conforme a posição do centro da projeção em relação ao centro da esfera terrestre: (1) central, quando os dois centros se confundem; (2) estereográfica, quando o centro de projeção se localiza em posição diametralmente oposta ao ponto de tangência; e (3) ortográfica, quando se imagina o centro da projeção localizado no infinito.
Esses três tipos de projeções azimutais podem diferençar-se de acordo com a posição do ponto de tangência: (1) polar, quando tangencia um dos pólos; (2) equatorial, quando o ponto se situa no equador; (3) meridiano ou horizontal, quando tangencia um ponto qualquer da superfície do globo terrestre, exceto o equador e os pólos.
A projeção cilíndrica é um caso extremo de projeção cônica no sentido contrário ao da hipótese de um plano. Em se alongando o cone de maneira tal que seu vértice fique no infinito, chega-se a uma posição em que o cone se transforma em um cilindro e tangencia o globo terrestre no equador. Na projeção cilíndrica dita genuína, obtém-se uma rede de coordenadas em que os meridianos aparecem como retas paralelas, cortadas pelos paralelos em ângulo reto. A forte distorção nas altas latitudes vizinhas às regiões polares faz com que esse tipo de projeção seja pouco empregado.
A fim de evitar excessivas deformações e, ao mesmo tempo, obter maior exatidão, introduziram-se mudanças como a projeção azimutal eqüidistante, em que todas as distâncias que partem do centro são conservadas em escala, embora o ponto antipódico se transforme em circunferência marginal do mapa. A projeção cônica de Bonne conserva a grandeza dos paralelos e, portanto, a área dos trapézios. São raros os mapas feitos na projeção cúbica, pois as coordenadas são projetadas sobre suas seis faces, donde a descontinuidade dos meridianos e paralelos, cuja rede se vê cortada e prejudica, assim, a clareza.
A projeção poliédrica é a projeção central feita sobre trapézios esféricos, os quais correspondem a um poliedro que, por hipótese, envolve o globo terrestre. Assim, quando cada trapézio - incluído numa folha topográfica - não ultrapassa um grau de latitude e de longitude, deixam de existir deformações perceptíveis, tornando possível obter medidas em todos os sentidos, dentro dos limites de cada folha topográfica.
Projeções convencionais. Empregadas na preparação de mapas que abrangem grandes áreas, as projeções convencionais são comuns nos planisférios e nos mapas-múndi. Utilizam, para a construção da rede de coordenadas, grandezas geodésicas aplicadas conforme as regras do desenho sistemático.
São diversos os tipos de projeções convencionais: (1) trapezoidal, criada por Cláudio Ptolomeu no século II, em que os meridianos aparecem como retas que convergem para os pólos, enquanto que os paralelos são retas paralelas ao equador; (2) globular, criada por Giovan Battista Nicolosi em 1660, que representa os hemisférios, por ser de forma circular; (3) pseudocilíndrica, de Sanson (1650), usada na construção de planisférios ou na representação de grandes áreas; (4) mista elíptica, de Max Eckert (1908); (5) mista, de O. Winkel (1913), muito usada em Atlas; (6) descontínua, de John Paul Goode (1916), que representa um planisfério cortado ao longo de determinados meridianos, com o objetivo de deformar o mínimo possível as massas continentais oceânicas; (7) oblíqua nórdica, de John Bartholomew (1949).
A projeção transversal, criada por Cassini em 1682 e modificada por Gauss-Krüger em 1900, é ainda utilizada em muitos países. Ao separar a superfície terrestre em faixas, ao longo de meridianos escolhidos, e com largura máxima de três graus de longitude, a carta topográfica nela baseada não contém praticamente nenhuma deformação perceptível, podendo ser mensurável em suas distâncias, rumos e áreas.
Usada desde o século XVI, a projeção de Mercator, também chamada carta marítima, é de ampla utilidade, pois permite traçar, em linha reta, a rota a seguir durante a travessia dos oceanos. É uma projeção cilíndrica modificada, em que os meridianos são retas paralelas entre si, que cortam perpendicularmente o equador e todos os paralelos.
Uma linha oblíqua corta os meridianos sempre sob o mesmo ângulo, o que permite a manutenção do rumo. A isso se dá o nome de loxodromia, curva espiralada que não é o caminho mais curto entre dois pontos situados à superfície da Terra, porém o mais simples para a navegação. No que se refere aos planisférios, essa não é a projeção mais aconselhável, face às deformações que apresenta pois, à proporção que se afasta do equador e aumentam as latitudes, mais exageradas se vão tornando as deformações, que atingem o máximo nas regiões polares.
Escalas
A escala cartográfica é a relação matemática entre as distâncias traçadas em um mapa e as existentes na natureza. O mapa é a representação geométrica, sobre um plano, de uma porção de superfície terrestre. Uma vez fornecidos os dados necessários pela geodésia (distâncias, direções e relevo), tais valores são reproduzidos em mapa por meio de desenho, o qual mantém a relação constante e rigorosa entre as distâncias traçadas no mapa e as extensões correspondentes na natureza. Para isso, usam-se escalas.
A indicação da escala de um mapa é direta quando feita junto à legenda, por expressão numérica ou gráfica, e indireta, quando essa mesma relação é estabelecida por elementos de grandeza conhecida. As escalas podem ser: (1) numéricas; (2) gráficas; (3) de declividades; e (4) de cores.
Escala numérica. Expressa por fração (1/2.000) ou por razão (1:2.000), a escala numérica significa, de acordo com o exemplo, que a unidade de comprimento, no numerador, ou no primeiro membro, vale duas mil vezes essa mesma unidade no terreno. Para tanto, é preciso conhecer o valor em metros, correspondente a um centímetro ou um milímetro da régua graduada aplicada sobre o mapa. Basta cortar as duas ou três últimas casas do denominador dentro da razão. Exemplo: 1/2.000 indica que um milímetro da régua corresponde a dois metros no terreno.
As escalas numéricas podem representar relações típicas pela simples variação dos valores expressos: a indicação 10/1 ou 10:1 é uma escala de maior proporção, indicando que a medida sobre o desenho ou fotografia é dez vezes o tamanho do objeto. Já a indicação 1/1 ou 1:1 é a escala natural, em que a medida do desenho é igual à do objeto representado "em tamanho natural". Por fim, a indicação 1/10 ou 1:10 é a uma escala de menor proporção, do tipo usado na confecção de mapas.
Não é costume utilizar uma escala numérica de superfície para a avaliação de áreas em mapas. Mas, se for usada, deve-se saber que a escala de superfície de um mapa é a escala linear ao quadrado. Exemplo: 1:5.000 linear é 1:5.0002 de superfície, isto é, um quadrado no mapa representa 25 milhões de quadrados idênticos no terreno.
A escala numérica para altitudes seria a escala linear do mapa. Mas, como o relevo (a terceira dimensão) é imensurável no mapa, por ser apenas figurado por meios gráficos, o processo torna-se inaplicável. Assim, em plantas e cartas topográficas encontra-se por vezes, junto à legenda expressa em números, a indicação da eqüidistância das curvas de nível, o que permite avaliar facilmente altitudes e declives.
Escala gráfica. As escalas gráficas exprimem com desenho a relação mapa-natureza e, com freqüência, são empregadas junto com a escala numérica. Sua vantagem decorre da fácil e imediata leitura, o que permite a determinação da distância por comparação ao longo da escala desenhada, obtendo-se o resultado rapidamente, sem necessidade de cálculo. Vantagem adicional da escala gráfica é o fato de acompanhar as eventuais reduções ou ampliações do mapa, conservando a razão da escala, o que não ocorre com a escala numérica.
A escala gráfica simples é uma reta dividida em unidades na razão da escala. Gradua-se a reta, a partir do ponto zero, com uma unidade básica maior para a esquerda, e para a direita marca-se a mesma unidade básica maior tantas vezes quantas forem suficientes. A unidade da esquerda chama-se talão ou extensão e acha-se subdividida em unidades menores.
Nas escalas gráficas, o resultado depende do cuidado e prática da operação de leitura e, esta, da finura da graduação. Nas cartas topográficas, especialmente as elaboradas pelas forças armadas, encontra-se uma escala gráfica pertencente à classe das escalas de conversão ou binárias. É a escala de passos que, de um lado da reta, tem uma graduação métrica e, do outro, uma graduação em unidades de passos. A posição oposta das duas graduações ao longo da meta permite avaliar o número de metros para determinado número de passos e vice-versa. A distância conhecida é tomada numa tira de papel ou no compasso de ponta-seca e lê-se o valor correspondente em unidades da escala oposta ao longo do tronco e do talão, da mesma maneira como se procede com a escala gráfica simples.
Outro tipo de escala gráfica é o da composta ou de deformações. A projeção cartográfica empregada na construção da rede de coordenadas geográficas (meridianos e paralelos) no plano provoca deformações lineares nos mapas geográficos. A escala composta é apresentada num conjunto em que são indicadas com exatidão as escalas de latitudes escolhidas, a primeira relativa ao equador. A ligação dos valores iguais das graduações das escalas forma uma série de curvas que permitem determinar graficamente o valor de distâncias em qualquer latitude.
Nos Atlas escolares empregam-se figuras geométricas, como o quadrado da área conhecida, desenhada, na escala linear, num canto do mapa. É costume incluir nos mapas de origem européia o desenho esquemático do próprio país, na escala do mapa, o que permite obter imediata idéia da grandeza de outras terras mediante simples comparação visual.
Escala de declividades.
Dá-se o nome de escala de declividades àquela que permite medir inclinações das vertentes e rampas das vias quando o relevo é representado por curvas de nível, hachuras ou esbatidos. Tal escala, que envolve a terceira dimensão, é elaborada com retas graduadas de maneira progressiva e em que os espaços marcados contam sempre a partir da origem. Lê-se o valor mais próximo da escala entre curvas consecutivas e, se for necessário obter valores mais precisos, interpolam-se as diferenças por estimativa. A graduação das escalas de declividades pode ser percentual ou angular. Uma dada escala só serve para determinada escala linear e determinada eqüidistância de curvas de nível.
Escalas de cores. Usadas para a representação do relevo nos mapas, empregam-se escalas de cores que, conforme certas regras, indicam as zonas de altitude e depressão. Em geral colocadas junto às legendas, essas escalas designam com cores diferentes a altitude dos planos horizontais ou as curvas que limitam tais zonas.
Cálculo da escala. Quando, por qualquer motivo, desapareceu a legenda e, assim, não se conhece a escala, o próprio conteúdo do mapa conta com elementos de grandezas conhecidas que permitem, indiretamente, determinar a escala, seja numérica ou gráfica. A rede de coordenadas geográficas é um destes, pois sua malha fornece a base para o cálculo ou a construção da escala, sabendo-se que um grau de latitude, ao longo de qualquer meridiano, equivale a 111km. Medindo-se com a régua o espaço entre dois paralelos, pode-se determinar a relação entre a grandeza do grau e sua medida sobre o mapa.
Nas folhas topográficas das cartas oficiais, é costume apresentar, além da rede de coordenadas geográficas, um sistema de quadriculagem quilométrica que se estende de maneira contínua sobre as folhas, indicando a grandeza linear de um quilômetro, o que é um recurso empregado para a avaliação de distâncias e áreas sobre as cartas.
Já nas cartas náuticas, construídas pela projeção de Mercator, nota-se, em toda a moldura, uma graduação em unidades de arco, que serve principalmente para a determinação da posição dos navios: em latitude, pelas duas graduações laterais e, em longitude, pela graduação das margens inferior e superior. Isso torna-se possível porque as graduações laterais, que se referem à latitude, não são igualmente espaçadas em suas unidades, visto que se alongam no sentido do equador para os pólos. Sabendo-se que as grandezas angulares das escalas laterais representam valores lineares constantes, é possível avaliarem-se distâncias nesses mapas náuticos.
Para isso, marca-se, sobre a divisão sexagesimal lateral, a extensão tomada no mapa entre os dois pontos em questão, de maneira a fazer coincidir o ponto médio dessa medida com o ponto da média das latitudes dos dois lugares. Os extremos dessa extensão indicarão, sobre a graduação, a distância procurada em medida de arco, que por meio dos coeficientes conhecidos pode ser transformada em medida linear métrica ou de outro sistema. Indiretamente, portanto, avaliam-se as distâncias lineares em mapas de projeção eqüiangular ou conforme, mediante a graduação lateral.
Cartografia e comunicação
Seria redundante afirmar que o mapa é uma imagem, se esta não tivesse passado a ser tão valorizada como modo de expressão ao longo de todo o século XX. Com a adoção de convenções simbólicas como cores, traços, emblemas, números etc., o mapa deve ser suficiente como tal, isto é, como representação portátil e eficaz de uma dada realidade, capaz, assim, de servir de base para a evocação, o raciocínio ou o projeto de qualquer espécie, dos mais amenos, como uma viagem turística, até os mais dramáticos, como a invasão de um país.
Essas qualidades colocam o mapa, a carta e todos os outros meios da cartografia no domínio das estruturas lingüísticas, uma vez que também são meios de comunicação, isto é, configuram uma linguagem. Seja como suporte à verificação pessoal ou como meio de expressão dessa pesquisa e das conclusões a que leva, permite sempre um diálogo entre autor e leitor ou autor e público, que para isso mobiliza estruturas sociais e psicológicas. Do correto emprego destas depende a resposta dos consulentes: de um lado, há o sistema de relações e interesses que congrega autor-cartógrafo-editor-impressor-divulgador-público e, de outro, os meios pelos quais se unem com tais objetivos várias técnicas de desenho, recursos de pensamento e recursos gráficos, assim como noções de psicologia aplicada à percepção visual e indispensáveis à comunicação da mensagem cartográfica.
Ainda que resultante da intenção de visualizar as informações, o mapa requer grande atenção do interessado em sua leitura bidimensional, menos comum que a linear, e de menor rapidez. Assim, para ser aceito e adotado, deve oferecer ao usuário uma forma de expressão que lhe permita economia do esforço mental em relação a outros meios de informação, e ainda atrativos que lhe atinjam tanto os mecanismos da consciência como do inconsciente.
É necessário, portanto, dosar a duração ideal do interesse do usuário e explorar o melhor possível componentes prioritários como a representação do relevo, a hierarquia das cores, a legenda facilmente memorizável. A feliz combinação desses elementos foi qualidade apreciável nos trabalhos cartográficos desde suas origens, motivo pelo qual muitos mapas se tornaram, modernamente, requintados objetos de decoração, emoldurados e postos em lugares de destaque. Os aperfeiçoamentos tecnológicos não diminuíram, antes acrescentaram, a atração estética dos mapas. Ficaram famosos, na segunda metade do século XX, tanto pela precisão científica como pela beleza e bom gosto gráfico-editorial, os mapas da National Geographic Society, dos Estados Unidos.
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